quarta-feira, 14 de julho de 2010

Para uma rotina.

Brasília, 14 de julho de 2010.

G. M.,

Eu gosto da minha rotina. Gosto de como acordo todo dia com o mesmo pijama cor de rosa de 3 anos atrás, aquele com um sapinho bem feio na frente e umas estrelinhas no shortinho. Gosto de como enrolo 5 min brigando com a cama, levantar ou não? Lenvantar!
Gosto de tomar banho quente logo cedo. Gosto de deixar a águas escorrer da cabeça para as costas, das costas para as pernas passando sutilmente pelo meu bumbum, assim, como em um ciclo infinito que só finda ao notar que já estou a 30 min no chuveiro. Sim, eu gosto de como demoro no banho.
Gosto de abrir meu guarda-roupas e sempre fechá-lo após optar pela segunda roupa vestida. Gosto de experimentar, combinar. Gosto de como as vezes me acho gordinha de frente pro espelho, mas gosto também quando encontro um rascunho de cintura.
Gosto da forma como abro devagar a porta do quarto dos meus pais e os vejo dormindo. Da voz rouca da minha mãe dizendo: Vai com Deus, filha! Amo você.
Confesso que gosto de entrar no meu carro. Gosto de acelerá-lo na EPTG até a chegada do único pardal. Gosto das rádios favoritas que tenho no meu carro, gosto de todas elas, das que tocam T. até as que tocam aquela versão divertida de A. F. com I. S., é eu gosto delas ok?
Gosto de chegar no prédio e ter vaga no estacionamento superior, mas caso não tenha, estaciono na lateral e dou um bom dia para o f., gosto da forma como ele me responde sorridente, gosto de como ele faz com que meu singelo bom dia pareça especial. Gosto, as vezes, de pedir para que ele lave meu carro, mas as vezes minto que vou para a chácara no fim de semana e que é melhor deixar para a semana seguinte. Não gosto de menti, mas as vezes se faz necessário.
Gosto de chegar na agência, de dizer "bom dia, meninos" e de esperar minha chefe terminar de arrumar o cabelo. Gosto de como ela vem rindo, desejando bom dia com o secador na mão. Gosto do "oi" tímido da M., do abraço misturado com cócegas do L. [t] C., do olhar preocupado da M., gosto até das piadinhas do R. B., mas, por favor, não conte isso para ele. Gosto das músicas que cantarolo com M., do jeito fechado da A., do vício por chocolate dividido com os meninos da sala de vidro.
Gosto dos milhares de e-mails que me enlouquecem todo dia, das mil campanhas, da geografia louca que tenho que estudar. Acredite, eu gosto de saber o nome das cidades esquisitas do interior do Piauí. Gosto dessas loucuras e gosto até quando chega mais um e-mail da A. M. com um pepino qualquer de um PI de 3 meses atrás.
Gosto da hora do almoço, da comida caseira e da braveza da C. [b] R.. Gosto de dividir a coca-cola de cada dia com o A. [a] M., e, atualmente, confesso que tenho gostado um bocado dos milhares de sucos que tenho experimentado. Gosta dessa promessa, mas gosto também dos desejos incontroláveis (na verdade, sempre controlados) de quebrá-la. Gosto de ser perseverante.
Gosto de voltar ao trabalho chupando picolé de morango. Gosto da cocada e gosto, também, do chocolate que compro todo dia.
Gosto de, as vezes, assim, no meio da tarde, fugir com o N. [m] J. para comprar suco e mais chocolate. Gosto dessa quantidade de glicose que ingiro todos os dias. Gosto da minha vida não saudavel e da falta de prática em certos esportes.
Gosto de ficar depois do horário, das piadas que rolam depois do horário, dos programas que rolam depois do horário. Gosto de como meu trabalho rende depois das 18h.
Gosto de caminhar até meu carro e de voltar pra casa. Gosto as vezes de cortar pelo acostamento, as vezes gosto de ficar parada no engarrafamento curtindo uma música engraçada. Gosto de fechar os vidros e dançar. Gosto até de como algumas pessoas olham me achando meio louca, mas no fundo com vontade de fazer o mesmo. Gosto das músicas bregas que escuto vindo dos carros ao meu redor.
Gosto de ir pra faculdade e estar sempre atrasada. Gosto de subir as escadas correndo e de fazer os caminhos mais longos para encontrar mais gente.
Gosto de, mesmo cansada, assistir a aula até o último segundo e ficar de papo furado depois do horário. Gosto quando saio da faculdade e não preciso pagar o estacionamento.
Gosto de chegar em casa e tomar aquelas sopas de pózinho que só precisa esquentar a água. Gosto de biscoito com toddynho e gosto também quando tem comida da mamãe.
Gosto de entrar na internet antes de dormir. De entrar no O. só para desejar parabéns, de t. a minha falta de tempo para o T. e de rir do F. do W. [f] B..
Gosto de deitar e repensar meu dia, de rir das bobagens que ouvi e de me preocupar com as coisas chatas. Gosto de planejar um dia completamente diferente, mas gosto de dormir sabendo que no dia seguinte só vai haver uma rotina me esperando.
Gosto de pensar todos os dias como a rotina que eu escolhi pra mim me faz bem e de como você tem culpa nisso.
Gosto de conversar com Deus.
Gosto de fechar os olhos e dormir.
Eu gosto da minha rotina. Gosto de como acordo todo dia com o mesmo pijama cor de rosa de 3 anos atrás, aquele com um sapinho bem feio na frente e umas estrelinhas no shortinho...
F. [s] T.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Para o meu desamor.

Brasília, 13 de julho de 2010.

N. S.,

Quanto tempo não te escrevo. A quanto tempo eu não digo minhas bobagens pra você, na verdade, acho que faz tempo que eu não deixo de ser personagem para ser só F. [s] T., ou melhor, acho que não quero mais ser [s], fico apenas com o F. T. hoje.
É que essa coisa de estar sempre bem, de ser sempre forte, ou até mesmo de ser menininha, cansa. Dá um trabalho fora do sério. Sem contar na forma que faz mal a minha inspiração.
Nos últimos dias, não conseguia escrever. Simples assim. Não escrevia sobre nada. Nem sobre o que tinha acontecido no meu dia, nem sobre meus amores.
E sabe o que percebi? Minha imaginação não feita de amores, mas sim dos meus desamores. Dos meus anseios de querer ficar sozinha, e ainda assim estar bem. Minha imaginação é feita da nossa nostalgia compartilhada.
É entrar no meu quarto, ligar o som com meu pop-rock-suave-romantico, deitar no meu tapete e olhar as estrelinhas que um dia colei no meu teto. Sim! Eu ainda faço isso.
Se lembra quando fazíamos isso? As tarde dedicadas ao "estudo" da física que sempre acabavam em duas adolescentes bobas comendo brigadeiro com morango e contando estrelas de mentira.
Os meus, os seus, os nossos desamores divididos na cumplicidade de uma eternidade jurada. Uma eternidade frágil, poética. Uma eternidade com prazo de validade.
Os poucos amigos. As injurias e mentiras. Os safados, cachorros e sem vergonhas. As idas e vindas de um amor desgastado.
Os seus desamores.
A independência mascarada. A vontade de colo. O desejo de estar rodeada de pessoas. As pessoas que nem sempre querem estar ao teu redor.
Os meus desamores.
Um festival. Um chiclete cor de rosa sabor morango. Uma carta trocada rapidamente no corredor enquanto os professores não chegavam. Uma lágrima. Um futuro presente feito de passado.
Os nossos!
Os seus, os meus e sempre os nossos desamores.
É disso que somos feitas. E não necessariamente, é isso que nos prende.

F. T., sem [s], assim, como você se lembra de mim.