sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Para um desejo natalino.

Brasília, 25 de dezembro de 2009.

H. R.,

Pensei em várias pessoas que poderiam merecer uma carta como essa, mas sabe, senti falta do meu velho amigo que sentava com seu jeito tímido e paciente para ouvir minhas velhas bobagens. Senti falta do cara inteligente que acreditava no meu potencial e que me dava chocolate só por saber que eu não resistia a eles. Senti falta das nossas conversas, senti falta de você.
Quis te enviar uma mensagem, mas pela primeira vez nesses 5 anos fiquei tímida diante do meu sumisso. E é verdade, sumi, me afastei. Esse ano percebi coisas que iam além dos velhos amigos de E. M. e notei que de repente já não éramos mais os mesmo. Os conceitos mudaram, e como mudaram. A moderninha passou a ser antiquada e os conservadores começaram a liberar a mente, mas eles não se encontraram quando chegaram nesse meio termo.
É difícil perceber, mas principalmente assumir, que você passou muito tempo acreditando em algo que nunca foi real. E eu aprendi isso. Aprendi que amigos são eternos no espaço do presente e que relacionamento nenhum aos 18 é pra sempre. Sim, logo eu, que sempre disse isso, que sempre soube disso na teoria, pude, então, viver na prática e no sentido mais amplo do que essas palavras significaram.
A menina durona passou a ser apenas uma mulher sensível. A garotinha que chorava sozinha nos corredores já não conseguia mais esconder as lágrimas. E num segundo o mundo parou e começou a girar ao contrário.
As coisas não eram mais fáceis que as equações gigantescas que você colocava no quadro para nos assustar, lembra: derivadas e integrais. Você tinha o dom de se divertir com nossas caras de desespero e soltar aquele sorriso bobo e meio de ladinho enquanto usava aquele apagador gigante. As vezes acho que o tempo embaralha nossas lembranças e a gente esquece coisas como as fórmulas de física, mas não a forma como as pessoas olharam pra você um dia, mesmo que seja aquele gordinho simpático na fila do verdurão.
Sabe, hoje é noite de Natal e eu só tenho um desejo: quero ter o sentimento de que tudo é bom enquanto durar e ainda assim não esquecer daquele olhar. Quero me lembrar sempre daquele olhar de compaixão da M. B. ao me flagrar chorando pela primeira vez, da I. [b] S. com seu olhar de cúmplice quando viramos nossa primeira madrugada roubando sorvete e afogando as mágoas dos amores frustrados que arrumávamos, até do olhar sem palavras da M. [m] C. pela fresta da porta no dia que saiu o resultado do vestibular, do brilho dos seus olhos na nossa formatura ou do olhar inocente do meu pequeno J. V. perguntando se aquele batom todo ia sair da bochecha dele um dia.
Só quero isso, uma boa lembrança, uma boa dose desses olhares de novo. E quero isso pra mim e pra você.
Te amo e sinto falta do seu bom olhar amigo
Beijo
F. [s] T.